domingo, 31 de agosto de 2008

As noites podem ser surpreendentes
não são feitas só de estrelas, nuvens, céu
e nem só da lua
são feitas de palavras, sensações, suspiros
retornos a memória, revirando baús
de poesias recém vividas

As noites podem surpreender
com sonhos e pesadelos
com um ventro frio, forte
com um cheiro doce de inverno
despedindo-se

As noites podem trazer surpresas
flores a desabrochar
estrelas a cair
distâncias a quebrar
pássaros a sorrir.

As noites...
as distâncias...
Os pássaros.

terça-feira, 26 de agosto de 2008

É difícil entender o tempo
Como ele passa arranhando o peito
Sem ressentimentos, sem culpa
Ele apenas machuca
Sem parar.

domingo, 24 de agosto de 2008

Mensagem

Não há nada, mas simples do que o prazer do proibido.
Do que o cansaço do corpo ao fim do orgasmo.
A emoção está no que remete os termos, não na força das palavras escritas.

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

e da duas

Escreve um poema
Inventa uma frase
Define a paisagem

Pede uma flor
Entrega uma rosa
Pode ser de amor

Conclui uma cena
Termina um soneto
Inverte o caminho

Canta um perfume
Cheira uma cor
Acaricia um olhar

Converte um passarinho
Rasga um arco-íris
Aprisiona uma brisa

Aperta uma nuvem
Mergulha numa árvore
Me abraça.

terça-feira, 12 de agosto de 2008


peço por favor
se alguém de longe me escutar
que venha aqui pra me buscar
me leve para passear

no seu disco voador
como um enorme carrossel
atravessando o azul do céu
até pousar no meu quintal

se o pensamento duvidar
todos os meus poros vão dizer
estou pronto para embarcar
sem me preocupar e sem temer

vem me levar
para um lugar
longe daqui
livre para navegar
no espaço sideral
porque sei que sou

semelhante de você
diferente de você
passageiro de você
à espera de você

no seu balão de São João
que caia bem na minha mão
ou numa pipa de papel
me leve para além do céu

se o coração disparar
quando eu levantar os pés do chão
a imensidão vai me abraçar
e acalmar a minha pulsação

longe de mim
solto no ar
dentro do amor
livre para navegar
indo para onde for
o seu disco voador

(Arnaldo Antunes)

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

CORRER ...IA

Correr a ti ia
Correria a ti
Ao teu lado ia

Deixaria tudo a ti
Deixaria tudo por ti
Deixo em ti tudo que tenho em mim

TEUS

Um empurrão no corredor e teu calor no bolso.
Teu olhar carmim no espaço dançando,
Teus passos no percurso de tua sala.

Aqui, em mim, um prisioneiro sem redenção.
Planejo os encontros de teus girassóis com meus sons.
Desejo a ternura de tua doce melodia ao meu fim do dia.
As noites mais quentes, com teu florir bailar.

Canto aos jardins, que não mais possuirei um prazer,
Se a ti não puder esperar, e deleitar-me ao teu sono.
Um jardineiro infiel, com terras nas mãos e pés na lama.
Um amante fiel de tua primaveril beleza.

Fortes tropeços na rotina de teus afazeres.
Uma fornalha no corpo, e o teu retrato na frente.
Marcas de teus deslizes e de minhas fraquezas.

SERES




Seres humanos sem fatos,
Em calos flamingos.
Atos desumanos sem seres,
Sem poderes, sem pudores.
Aros e laços de animais desprovidos...
Desarmados de ética,
Desalmados de valores.

Seres volantes sem sentido
Sem direção, armados de ilusão.
Iluminados de pavores e caídos de amores.
Subjugados na terra e na carne.
Amaldiçoados em vida e pós-morte.

Seres inacabados,
Imortalizados em auto-retratos precários.
Formados por interminável vontade de errar.
Seres impuros
Impróprios de amores.
Seres humanos.